“É muito melhor alugar um carro e fazer tudo por conta própria!” Será?!

Esse é um dos conselhos que dão por aí e que despreza o trabalho das agências e dos profissionais de turismo, sem se preocupar com uma série de questões que podem prejudicar os turistas, o destino, os residentes e até incorrer em desinformação e risco à vida

Isla Victoria
Navegações lacustres com carros alugados: uma tarefa ingrata…

Fazer tudo por conta própria ou reservar passeios com uma agência? Eis a questão.

Fazer tudo por conta própria é a melhor opção para algumas pessoas e uma opinião que volta e meia aparece em nossas redes e que sempre precisamos esclarecer diversos pontos para evitar uma desinformação que pode gerar frustração ou até mesmo colocar a vida dos outros em risco.

Isso porque a questão é também enganosa e mal formulada.

Opinião generalizada que não serve para todos os perfis

Há turistas que já foram a Bariloche diversas vezes e quando voltam preferem refazer de carro um passeio que já fizeram por uma agência, com um guia de turismo. Até aí tudo bem. O problema acontece quando essa opinião é generalizada, sem levar em conta o perfil de cada um, normalmente feita por pessoas que já viajaram algumas ou várias vezes ou até já moraram ou moram em Bariloche. Muitos, em algum momento já fizeram os passeios com agência, guia e querem dar uma grande dica de economia que para eles serve para toda e qualquer pessoa: “Façam tudo por conta própria, é muito melhor e mais barato!”

Menosprezo aos profissionais do turismo e incentivo ao turismo predatório

Além de menosprezar o trabalho dos profissionais do turismo, desde agentes de turismo, a guias (uma formação de nível superior) e motoristas com experiência e habilitação, menosprezam também o destino e acabam incentivando o turismo predatório, como aqueles turistas que levam partes do bosque como “souvernires”, deixam lixo para trás, entram de carro em áreas proibidas, fazem fogueiras onde não se pode, não apagam corretamente e podem causar incêndios, destruindo a flora e até prejudicando e matando animais silvestres.

Normalmente aqueles que anunciam “alugue um carro e faça tudo por conta própria” não dão muita informação além de que é mais econômico e de que você faz as coisas “no seu tempo”. De resto, dane-se. Não se preocupam muito com o perfil de quem está perguntando nem com a preservação do destino.

El Refugio en Arelaquen
“Remisero! Siga aquelas motos!”

A maioria dos passeios não pode ser feita por conta própria e o que pode, geralmente é furada para a maioria dos perfis de turistas

Essa é também uma opinião muito equivocada por outras razões: “alugue um carro e faça tudo por conta própria!” Ok. Mas vai navegar no lago de carro? Vai subir ao Refugio en Arelauquen no seu sedan alugado e comer e beber vinho de graça? Vai fazer Nieve al Límite ou Snowcat sem guia de montanha profissional e habilitado? Isso é um carro ou uma espaçonave all inclusive?

Não. Você não vai fazer tudo de carro alugado e o que se pode fazer são alguns passeios terrestres e alguns transfers. Quer ir ao Cerro Catedral de ônibus ou carro alugado esquiar por conta própria? Tudo bem. Mas será que quem dá esse conselho também conta que na alta temporada de inverno, nem sempre se acha vaga no estacionamento e que as filas para voltar de ônibus são gigantescas e confusas? Há quem prefira pagar 80 reais por um transfer e ser levado e buscado sem se preocupar ou ainda contratar a aula de ski com transfer incluído.

Snowcat
“Anda, Osvaldo! Estamos perdendo eles de vista!” “Não dá, querida. O carro atolou na neve.”

A experiência do guia e do motorista otimizam o tempo do passeio e faz você aproveitar muito mais e com segurança

Sobre a questão de que a excursão é muito rápida e não dá para ficar muito tempo em certas paradas e que de carro, por conta própria, você pode ficar o tempo que quiser: Claro, mas normalmente diz isso quem já fez o passeio com um guia e já viu tudo que tinha pra ver e, ao retornar, pode querer ficar mais tempo num lugar ou em outro. Mas o fato é que as excursões são muito bem planejadas conforme o tempo disponível e as atrações do percurso.

Por exemplo, se você fizer um passeio terrestre como San Martín de los Andes pela Rota dos 7 Lagos, de dia completo, que sai às 8h da manhã (ainda escuro no inverno) e volta no início da noite, o que vai acontecer se você parar meia hora em cada lago, duas horas em Villa La Angostura e ficar um tempão em San Martín de los Andes? Você acha que vai voltar a que horas? De madrugada? Vai dirigir de noite, podendo ter neve e gelo na pista?

O guia é um profissional muito experiente, capacitado e define os tempos para que o passeio seja o mais agradável possível. O guia não “apressa” nem “tira tempo” do passageiro. Ao contrário, ele só quer que os passageiros apreciem tudo da melhor forma, que vejam tudo que tem de mais relevante, acompanhados, seguros e bem informados. O tempo dos passeios são planejados e eles podem sofrer variação pelo clima, trânsito, mas nunca porque um guia quis apressar os passageiros por preguiça ou para ir embora logo. É muita ignorância ou paranoia pensar dessa forma. É menosprezar o trabalho dos outros e não enxergar que a maioria das pessoas dá muito valor a esses profissionais, querem segurança, informação e não estão interessadas em abrir mão disso pelo barato que muitas vezes sai caro. Ainda mais quando empurrado por irresponsáveis como “dica de ouro” para passageiros que não conhecem Bariloche.

Roca Negra
Gente! É um Renault Sandero alugado subindo a montanha mesmo?!

Os riscos de ouvir as “dicas” de qualquer um na internet

Em nossas redes, já vi gente que recomendou a uma família com bebê e criança, e sem experiência em dirigir em destinos de neve, para ir a San Martín de los Andes, passando por Villa La Angostura e Cerro Bayo, tudo de carro alugado, por conta própria. São pessoas irresponsáveis com a segurança do próximo, de crianças, com a sustentabilidade do destino, que pensam apenas em “economizar” a qualquer custo e de modo generalizado fazem valer sua opinião de especialista de internet sem qualquer responsabilidade profissional e respeito por quem é profissional e conhece o destino para além do turismo predatório.

O turismo precisa ser sustentável e bom para o turista, para os anfitriões e para o próprio destino e suas futuras gerações

Nas nossas redes temos muitos passageiros, famílias com crianças, bebês, casais, idosos, mulheres que viajam sozinhas, mães que viajam com filhos autistas e pessoas com diversos perfis que merecem respeito e responsabilidade ao serem informadas, não opiniões generalizantes e que muitas vezes desrespeitam o destino e especialmente os profissionais do turismo de Bariloche, que, vale dizer, fica dentro de um Parque Nacional e que é essencialmente turístico em sua economia. Profissionais que estão aí não só para ajudar o turista a ter a melhor experiência e a mais segura possível, como para preservar e informar sobre o destino, garantindo que o turismo seja sustentável e não predatório. O turismo tem que ser bom não só para o turista, mas também para o destino, para seus anfitriões e seus profissionais, com respeito ao meio ambiente.

Navegação de lago Isla Victoria e Bosque de Arrayanes
Eita, carrão!

Portanto, é nossa obrigação na Destino Sul e no Bariloche para Brasileiros zelar pelo conteúdo não só que produzimos, mas pelas informações que terceiros emitem em nossas redes. Não temos interesse nenhum em turistas predatórios e irresponsáveis, seja na internet, seja em Bariloche ou em qualquer outro lugar. Precisamos respeitar e preservar tanto os lugares que visitamos quanto o que moramos, para nossa geração e para as gerações futuras.

Alejandro Sainz

Autor: Alejandro Sainz

Alejandro é irmão da Sabrina e sócio-diretor do Bariloche para Brasileiros. Músico e publicitário brasileiro e argentino, nasceu em Buenos Aires, mas cresceu e vive no Rio de Janeiro. Ficou tão deslumbrado quando conheceu a Patagonia e Bariloche, que compôs uma música chamada “Patagonia” com sua banda de rock, que virou disco e videoclip realizado apenas com filmagens da região. Seu lugar preferido é a estepe patagônica. Também é louco pelas cervejas artesanais, chocolates e tudo que é “ahumado” (defumado) da região: comida, cerveja, molhos etc.

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