As etapas de reabertura do turismo internacional

Sucesso das etapas de reabertura depende diretamente do controle da transmissão do novo coronavírus

Etapas de reabertura do turismo internacional
Céus vazios com a pandemia.

A forma como cada país lida com a pandemia do novo coronavírus é crucial não só para uma reabertura segura do turismo internacional, como de todos os setores da economia. Não existe o falso dilema: salvar vidas ou a economia? A algumas autoridades e parte da sociedade que acreditam que os danos do isolamento social são maiores para economia, e até indiretamente para salvar vidas, eu gostaria de expor alguns contrapontos e mostrar que, ao contrário, o melhor para salvar vidas e para a economia é: 1) isolamento social; 2) políticas coordenadas dos poderes públicos; 3) transparência; 4) população que colabora com o isolamento social e com os protocolos de segurança e sanitários.

Explico porquê: quanto mais tarde se reage, quanto mais se negligencia a pandemia e quanto mais desorganizada e ineficiente são as ações do Poder Público, mais tempo teremos que lidar com a ameaça do novo coronavírus e suas consequências para a saúde e a economia.

controle do covid-19 em aeroportos e protocolos de segurança e sanitários
Vigilância Sanitária do Estado afere a temperatura de passageiros no desembarque do Aeroporto do Galeão no Rio

Vamos ao exemplo do turismo internacional. Imagine que você vive em um país que conseguiu coordenar com transparência e colaboração da população ações contra o Covid-19. Seu sistema de saúde funciona e tem boa capacidade de atendimento. Seus aeroportos, restaurantes, comércio, pontos e agentes turísticos têm protocolos de segurança e sanitários ativos e eficientes. Você viajaria para um país que não tem nada disso? Passaria por aeroportos, hotéis, ruas, atrações turísticas, restaurantes em um lugar onde o vírus não está sob controle e parte da população parece não levar a situação a sério ou está desorientada?

Nem você nem ninguém. Mas não precisa se preocupar, porque é muito improvável que qualquer país abra fronteiras para um país que ainda não foi capaz de controlar o Covid-19. E esse é o problema do relaxamento e da falta de colaboração entre Poder Público, setor privado e população no controle do vírus. Isso faz com que o dito país seja considerado área de risco e mesmo que seus governantes relaxem o isolamento social, abram escolas, comércios, isso não vai resolver praticamente nada para a economia, porque a população continuará assustada, o sistema de saúde em risco e ninguém vai querer viajar para um lugar assim nem receber ninguém de um país que ainda se encontre nesta situação. Não é uma questão política, mas sanitária. E estamos falando de Saúde Pública em uma pandemia.

Confiança é a nova moeda no novo normal

Outro fator vital para reabertura é a transparência. Não basta controlar a transmissão do Covid-19, mas mostrar com clareza de informação e ações que isso foi feito. Não por acaso, o secretário-geral da Organização Mundial do Turismo (OMT), Zurab Pololikashvili, declarou que “Confiança é a nova moeda do nosso ‘novo normal’.”

Quando falamos sobre Bariloche e Argentina, até o momento, as medidas tomadas pelo Poder Público e a colaboração da população têm sido muito satisfatórias e o país tem sido visto como um bom exemplo no mundo. Bariloche ainda não registrou nenhuma morte pelo Covid-19. Isso transmite confiança e atrai turistas numa futura reabertura. Se continuar assim…

Covid-19 na Argentina - reabertura do turismo
Um menino corre atrás de gansos em um parque de Buenos Aires depois que as autoridades permitiram que as crianças saíssem por uma hora para fins recreativos, de acordo com o número de identificação dos pais. Foto Alejandro Pagni/AFP.

Aerovias de mão dupla

Para que possamos viajar de um país a outro, ambos países deverão ter o novo coronavírus sob controle e protocolos bem estabelecidos. E neste ponto o Brasil nos preocupa muito. Já somos o segundo no ranking de casos confirmados e a curva de contágio continua subindo muito. Internamente, os governantes continuam não se entendendo e a população não tem aderido ao isolamento social de modo satisfatório, seja pelos negacionistas, seja por falta de liderança e orientação unívoca do Poder Público.

reabertura do turismo internacional
Espaço aéreo em 12 de maio de 2019 e 12 de maio de 2020.

Alguns países no mundo que conseguiram controlar bem a contaminação pelo Covid-19, já ensaiam uma volta do turismo internacional. É o caso da Eslovênia, por exemplo, que abriu as fronteiras para turistas da União Europeia. O mesmo planejam Grécia e até a Itália, que já decretou que reabrirá o turismo para a Europa a partir do dia 3 de junho, sem necessidade de quarentena para os turistas.

reabertura de fronteiras

A União Européia está incentivando países com taxas semelhantes de contaminação por coronavírus e sistemas de saúde comparativamente fortes a abrir fronteiras entre si. Austrália e Nova Zelândia planejam criar uma bolha tansmânica controlada entre os dois países. Ficaremos de olho nestes primeiros movimentos de reabertura.

queda no número de voos com a pandemia
Média de 7 dias do total de voos no mês de maio de 2016 a 2020 (azul escuro).

Como será a abertura gradual do turismo

Antes de abrir para o turismo, um país tem como primeiro passo controlar a transmissão do novo coronavírus e apresentar curva descendente de casos confirmados do Covid-19. Ou seja, com um sistema de saúde capaz de testar e rastrear os casos suspeitos.

Com a transmissão do Covid-19 controlada, o segundo passo é sair da quarentena com segurança. Os critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS) para isso são:

  • Transmissão controlada;
  • Sistema de saúde capaz de testar e isolar casos;
  • Minimizar surtos em casas de repouso;
  • Administrar importação de casos;
  • Engajamento da comunidade;
  • Prevenção no trabalho e escolas.

O terceiro passo é ter os protocolos de segurança e sanitários ativos e bem-sucedidos, em aeroportos, hotéis, atrações turísticas, espaços públicos, escolas etc.

Por fim, a abertura do turismo deverá acontecer em etapas concêntricas:

Local: turismo dentro da própria cidade, com a abertura de atrações turísticas, transporte público, restaurantes etc. Neste momento os protocolos e medidas sanitárias começam a ser postos a prova no turismo.

Regional: turismo entre cidades fronteiriças, próximas ou dentro de um mesmo estado. Aqui começam a ser testados os protocolos para viagens terrestres.

Nacional: turismo doméstico completamente reaberto, incluindo o transporte aéreo. Nesta etapa já temos os protocolos ativados em aeroportos.

Continental: aqui começa o turismo internacional, muito provavelmente entre países fronteiriços, desde que o país de origem e de destino já tenham passado de modo bem-sucedido pelas etapas anteriores. O turismo entre Brasil e Argentina se enquadra aqui.

Intercontinental: por fim, teremos a reabertura do turismo em outros continentes, podendo aí também ter uma gradação que se inicia entre as Américas, depois Caribe, Europa e África e por fim Ásia e Oceania.

Coronavírus - áreas de risco no mundo.
Brasil até 21/5/2020: mais de 310 mil casos confirmados.

Áreas de risco – países com a contaminação ainda fora de controle

Nem todos os países apresentarão o mesmo desempenho no controle do Covid-19, nem estarão no mesmo estágio da pandemia, nem terão a mesma infra-estrutura para lidar com o vírus. Assim sendo, com fronteiras reabertas pelo mundo, teremos listas de países que serão considerados áreas de risco, ou seja, países sem transmissão controlada e que não podem ser destino turístico internacional e nem enviar turistas a outros países.

Necessidade de protocolos de segurança e sanitários em Bariloche
Imagens de uma alta temporada no Cerro Catedral que não poderão mais ser assim.

No início da pandemia, a OMS monitorava o status de países para definir se eram área de risco ou não. Essa lista da OMS servia de base para que os governos nacionais com fronteiras abertas definissem suas próprias listas com países considerados área de risco, que normalmente coincidiam. A medida recomendada para receber viajantes de áreas de risco era a quarentena obrigatória de 14 dias ou repatriação, o que inviabiliza qualquer atividade turística. No entanto, com o aumento do controle e dos protocolos de segurança nos aeorportos, dificilmente um passageiro contaminado conseguirá embarcar.

É importante levar em conta que a reabertura pode não ser gradual e ascendente. As medidas de isolamento social podem ser intermitentes e as reaberturas podem passar por recaídas. Assim, uma possível lista de áreas de risco pode oscilar muito.

Aglomeração na praia às margens do Lago Nahuel Huapi, no centro de Bariloche.
Sonhos de um dia de verão em Bariloche que por um bom tampo não poderá mais ser assim também.

Conclusões e conselhos

Para saber quando poderá viajar para determinado país, você deve avaliar antes de mais nada a situação do Brasil. Avalie em que ponto estamos entre todas as etapas e critérios que descrevemos aqui. Se a situação não está sob controle e sequer temos turismo doméstico, esqueça viagens internacionais antes disso.

São Paulo é um ponto importante para ficarmos de olho. A grande maioria dos voos internacionais passam por São Paulo e a maior metrópole do Brasil é também a que se encontra em pior situação, estando sozinha com estatísticas do Covid-19 piores do que toda a China e muitos outros países que passam ou passaram por situações graves. Você pode acompanhar a situação de Brasil e Argentina aqui.

Por fim, a história e os fatos atuais confirmam que, quanto mais um país posterga, relativiza e flexibiliza as medidas restritivas contra o novo coronavírus, mais vidas são perdidas, mais o sistema de saúde do país perde o controle da situação e muito mais a economia e o turismo são prejudicados. Dessa forma, o destino precisará lidar com os dramas do Covid-19 por muito mais tempo do que países que foram mais rigorosos e rápidos em agir. Reabrir mal, significa reabrir sem efetividade e, muito provavelmente ter que fechar de novo depois.

A gangorra economia vs. salvar vidas é, claramente, um falso dilema.

Como não estamos falando de futebol, estamos aqui na torcida por Brasil e Argentina no combate ao Covid-19 e o pronto reestabelecimento do turismo entre os dois países irmãos.

Alejandro Sainz

Autor: Alejandro Sainz

Alejandro é irmão da Sabrina e sócio-diretor do Bariloche para Brasileiros. Músico e publicitário brasileiro e argentino, nasceu em Buenos Aires, mas cresceu e vive no Rio de Janeiro. Ficou tão deslumbrado quando conheceu a Patagonia e Bariloche, que compôs uma música chamada “Patagonia” com sua banda de rock, que virou disco e videoclip realizado apenas com filmagens da região. Seu lugar preferido é a estepe patagônica. Também é louco pelas cervejas artesanais, chocolates e tudo que é “ahumado” (defumado) da região: comida, cerveja, molhos etc.

3 pensamentos

    1. Oi, Fernanda! Que bom que gostou! Fique ligada aqui e em nossas redes sociais, que estaremos sempre buscando informação atualizada e de confiança.

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